domingo, 24 de outubro de 2010

Iraê não é Toinho do Sopão

A adesão de Iraê Lucena à candidatura de Ricardo Coutinho é, provavelmente, a mais emblemática da campanha eleitoral de 2010 ao governo da Paraíba. Herdeira de um legado político de inquestionável respeitabilidade, a deputada terá sido umas das poucas adesões nesta campanha, seja para um lado, seja para outro, que se terá restringido exclusivamente a um compromisso de valor político. Seu significado é de outra categoria, muito diferente daquele a que pertence o leilão eleitoral vagabundo, em que prefeitos, ex-prefeitos, vereadores, ex-vereadores e outras pseudo-lideranças vagam ao sabor das ofertas, essa asquerosa prática eleitoral que infecta a Paraíba e não só a Paraíba.

Mais do que os votos próprios que devem somar-se aos de Ricardo, é no sinalizador de afinidade programática com seus compromissos históricos que Iraê aponta, precisa e definitivamente, o ex-prefeito do PSB como o sucessor natural da linhagem política de seus antepassados.

Tarefa difícil, ingrata, dolorosa para ela a manifestação dessa profunda coerência, certamente incompatível com a superficialidade das aparências de conveniência de curto prazo. Lembro, em 2002, do desconforto, absolutamente sincero e autêntico, de Iraê Lucena com a minha ambição marqueteira de institucionalizar a expressão “maranhismo”, cujo objetivo era disseminar pela Paraíba uma espécie de culto à personalidade de José Maranhão.

Ela pertencia ao PMDB e tinha a legenda como bandeira. Entendia que as mulheres e homens que se identificassem com o ideário do partido é que deveriam impregnar-se dele e não o contrário - o partido virar refém de um nome. Essa convicção fazia todo o sentido para a consciência de quem teve sua vida política forjada em momentos dramáticos da história da política brasileira. Primeiro, foi o MDB, trincheira de quem, com todos os riscos que a decisão carregava, negou-se a adesão aos militares e civis golpistas. Depois, o PMDB, solução prática para manter uma oposição viva e forte, não importam os vieses com potencial de desagregação no futuro. Naquela hora, o Brasil ainda tinha um compromisso com a recuperação de uma democracia ultrajada. Foi a consciência disso que manteve o partido coeso.

O fato, porém, é que esse PMDB que serviu de modelo à carreira de Iraê Lucena acabou. E ela sabe disso. Hoje, é um aglomerado de oportunistas, em maior ou menor intensidade, aqui ou acolá. O candidato à vice-presidente de Dilma Rousseff, Michel Temmer, é um exemplo acabado disso. Era um fervoroso defensor do impecheament de Lula até ganhar uma carona no barco que deve levá-lo, junto com o PT, ao poder.

Ao tomar a decisão que, certamente, abalou os alicerces da candidatura de José Maranhão, Iraê mostrou-se uma forte. E consagrou a ideia de que certas intervenções nos rumos da história não são tarefa para qualquer um. Que o diga a saga de seu pai.

Stalimir Vieira

Um comentário:

  1. Josemar Arruda de Lima - João Pessoa24 de outubro de 2010 às 14:19

    Stalimir Vieira, não sei se voce é homem ou mulher dada a esquisitice no seu nome. Quer dizer que o PMDB não pode apresentar novas pessoas para candidato, que rapidamente vira um cachorro velho rabugento. A política somente mudou, porque hoje, mais do que nunca, os políticos velhos, e ai Iraê está inserida, somente buscam vantagens pessoais, os ideais se foram com os homens de bem. Agora, provavelmente desaparecerá da política, esse é o destino daquele que somente olham para o umbigo. Milhares de eleitores como eu que votei tres vezes em Iraê, acreditando nas raízes dela, estamos de queixo caído com a traíragem. Nossa decepção foi tanta que se ela permanecer no PMDB, muita gente vai se desligar deste partido. Já não há mais lugar para ela...

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