domingo, 13 de março de 2011

No Senado, o alazão se chama “suplência”

Alguém já disse –salvo engano foi o Getúlio Vargas— que “política é esperar o cavalo passar". No Senado, o alazão se chama “suplência”.

Cavalgando o prestígio eleitoral alheio, empresários, parentes e apaniguados chegam ao plenário da Câmara Alta sem amealhar um mísero voto.

O titular da vaga nem precisa morrer. Basta que assuma algum cargo no Executivo para que o sem-voto vire senador.

Os exemplos abundam. Lobinho no lugar de Lobão. ACM Jr. na vaga de ACM...

Há casos em que o dinheiro fala mais alto que os laços familiares. O sujeito às vezes nem tem princípios. Mas dispõe dos meio$.

Para citar dois exemplos da legislatura 1995-1998:

1. Gilberto Miranda, um negociante que fez fortuna com métodos heterodoxos, borrifou verbas nas arcas eleitorais de Amazonino Mendes.

No papel de provedor, vestiu-se de suplente. Comprou, por assim dizer, um bilhete premiado.

Amazonino se elegeria prefeito de Manaus e, depois, governador do Amazonas. E Gilberto Miranda virou senador.

2. Sócio da Klabin, Pedro Piva foi colega de Miranda na bancada monetária. Mecenas eleitoral de José Serra, Piva escalou a chapa na primeira suplência.

Eleito, Serra tornou-se ministro de FHC –primeiro, do Planejamento; depois, da Saúde. E Piva herdou-lhe a cadeira de senador.

Na próxima semana, a comissão do Senado incumbida de por em pé um projeto de reforma política vai discutir e deliberar sobre o que fazer com os suplentes.

Pela lógica, a figura do suplente de senador deveria ser extirpada. Vagando a cadeira, assumiria o candidato derrotado que houvesse somado mais votos.

A política, porém, é guiada pela ilógica. Assim, é difícil saber o que vai propor a comissão coordenada pelo senador Francisco Dornelles (PP-RJ).

Afora a questão dos suplentes, os membros da comissão programaram-se para responder na semana que vem a outras três perguntas:

1. O instituto da reeleição de prefeitos, governadores e presidentes da República deve ser mantido ou extinto?

2. O voto deve ser obrigatório, como hoje, ou o melhor seria convertê-lo em facultativo?

3. A data da posse dos governadores e do presidente da República deve ser mantida em 1º de janeiro, dia da ressaca do Ano Novo, ou o melhor seria alterá-la?

A comissão vai tentar decidir por consenso. Porém, sempre que prevalecer o dissenso, a divergência será dirimida no voto.

Josias Souza/FOLHA

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