O poeta e político Ronaldo Cunha Lima nasceu na cidade de Guarabira, em 18 de março de 1936, mas ainda jovem mudou-se com a família para Campina Grande. Com a morte do pai, Demóstenes, para ajudar a mãe, dona Nenzinha, no sustento da casa e para custear os estudos, vendeu jornais, foi garçom e trabalhou em cartório.
Ronaldo formou-se em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mas desde cedo a vocação para a política passou a marcar sua trajetória. Fez parte do Centro Estudantil Campinense, um verdadeiro celeiro de líderes políticos, sendo, inclusive, vice-presidente da entidade.
Disputou sua primeira eleição em 1959, com 23 anos, elegendo-se vereador pelo PTB, com 952 votos. Três anos depois (1962), foi eleito deputado estadual, somando 3.796 sufrágios, dos quais 2.057 oriundos das urnas de Campina Grande. Em 1968, aos 32 anos, chegaria à Prefeitura de Campina Grande, uma história interrompida.
A partir de 31 de março de 1964, o Brasil passou a ser comandado pelo regime militar, cujas mudanças políticas acabaram por atingir Campina Grande, com o afastamento do então prefeito Newton Rique, que, além de perder o mandato conquistado no ano anterior, teve os direitos políticos cassados por dez anos.
Amigo de Rique, Ronaldo certamente não imaginava que, cinco anos depois, enfrentaria o mesmo destino. Mesmo sem ser o mais votado para a Prefeitura em 1968, Cunha Lima venceu, beneficiando-se da nova legislação, outorgada pelos militares, que instituiu o sistema da sublegenda. As eleições aconteceram em 15 de novembro.
Prefeito eleito, prefeito cassado
Na votação direta, Severino Cabral, da Arena I, teve mais sufrágios: 17.568. A Arena II, com Plínio Lemos, que poderia ter balançado a disputa em favor de Cabral, obteve apenas 635 votos. E a Arena III, de Stênio Lopes, teve ainda pior desempenho, com 241 sufrágios. Na soma, a Arena, onde praticamente só o “Pé de Chumbo” teve votos, totalizou 18.444 sufrágios. Com isso, o partido ficou atrás do MDB, que somou 22.156 votos: 13.429 de Ronaldo Cunha Lima, 312 de Osmar Aquino e 8.415 de Vital do Rêgo.
Candidato mais votado do partido que obteve a maior votação, Ronaldo elegeu-se. Venceu de acordo com as regras do jogo. Mas, se a norma casuística da Ditadura Militar ajudou a vencer, o arbítrio acabaria levando a uma virada de mesa.
Ronaldo e seu vice, Orlando Almeida, tomaram posse no dia 31 de janeiro de 1969. Menos de dois meses depois, em 14 de março, por efeito do famigerado Ato Institucional nº 5 (AI-5), decretado no dia anterior, assim como acontecera com Newton Rique, Ronaldo também teve o mandato cassado, com suspensão dos direitos políticos por dez anos. Seu vice assumiu, mas também acabou afastado, ficando Campina nas mãos de um interventor, Manoel Paz de Lima.
Do mesmo modo que Newton Rique, Ronaldo Cunha Lima também deixou Campina Grande. Mas, ao contrário do amigo rico, o poeta-político, casado com Maria da Glória Rodrigues da Cunha Lima, penou para sustentar a prole de quatro filhos – Ronaldo, Cássio, Glauce e Savigny Cunha Lima – fora da Rainha da Borborema, ainda mais com os direitos políticos suspensos – o que o impediu de assumir cargo público.
Inicialmente, Ronaldo transferiu-se para São Paulo e, em seguida, para o Rio de Janeiro, exercendo a advocacia. Nunca desligou-se, todavia, de Campina Grande. Segundo relato do filho, o hoje senador Cássio Cunha Lima, acompanhava os acontecimentos da cidade através das páginas do agora extinto Diário da Borborema, até que, nos estertores do regime militar, após a anistia, regressou à Paraíba e voltou a disputar a Prefeitura campinense.
1982: O retorno triunfal nos braços do povo
Convocado por amigos para voltar às disputas políticas, Ronaldo Cunha Lima deixou o Rio de Janeiro, em 1982, e retornou à Rainha da Borborema. A volta triunfal ficou eternizada nos versos de uma quadrinha: “Volto à minha Campina / No templo e no Evangelho! / E ao entrar nesta cidade / Afoguei minhas saudades / Nas águas do Açude Velho”.
Em sua nova disputa pela Prefeitura, Ronaldo não precisou se valer, como em 1968, da sublegenda, para reconquistar a Prefeitura. O sistema era o mesmo, mas o bipartidarismo havia sido rompido. Indiferente a esses aspectos, Ronaldo atropelou todos os adversários, e venceu com larga vantagem.
Candidato pelo PMDB I, Ronaldo somou 40.679 votos, o equivalente a 56,33%. Vital do Rêgo (PSD I) obteve 28.625 sufrágios, ou 39,64%. A votação dos demais candidatos foi minúscula. Passados 13 anos desde a cassação pelo regime militar, Ronaldo voltava ao cargo que lhe fora usurpado pelo arbítrio.
Tal pai, tal filho
Ronaldo cumpriu mandato de seis anos. Em 1986, elegeu o filho Cássio, então com 23 anos, deputado federal constituinte. E, beneficiando-se pelas disposições transitórias da nova Carta Magna, fez do jovem deputado seu sucessor no comando do executivo municipal campinense, vencendo na disputa o ex-prefeito Enivaldo Ribeiro.
O jingle da campanha de Cássio expressava o sentimento e a estratégia de marketing daquele momento: “Plantar o grão / Pra colher o milho / Depois do pai / Sempre vem o filho / Continuar por amor é a sina / Francisco Lira, Cássio Cunha Lima”. O sucesso em 1982, coroado com a vitória do filho em 1988 e o poderio do PMDB estadual, somados, pavimentaram o caminho para a corrida pelo Palácio da Redenção, em 1990.
Seria a primeira eleição direta para governador, a ser decidida no segundo turno. E a nova regra permitiu que Ronaldo Cunha Lima derrotasse o ex-governador Wilson Braga (PDT), que venceu o primeiro turno, com 498.763 votos, contra 462.562 do peemedebista. Também estiveram no primeiro tempo da refrega outros candidatos: João Agripino (PDS) – 137.487 sufrágios; Genival Veloso de França – 44.719; Juracy Palhano – 6.494.
No segundo turno, Cunha Lima reverteu a vantagem de Wilson Braga, vencendo com ampla vantagem: 704.375 sufrágios a 571.802 (diferença de mais de 132 mil votos). No balanço entre as duas principais cidades do Estado, enquanto em João Pessoa a diferença pró-Braga caiu para menos de 24 mil sufrágios, em Campina Grande Ronaldo ampliou sua margem para quase 85 mil votos.
Ronaldo governou a Paraíba de 15 de março de 1991 a 2 de abril de 1994, quando renunciou ao mandato, entregando o cargo ao vice-governador, Cícero Lucena, para se eleger senador.
Um poeta de alma e verso
Ex-vereador, ex-deputado, ex-prefeito, ex-governador e ex-senador, Ronaldo Cunha Lima sempre gostou de ser tratado por um título bem mais singelo: poeta. É assim que os próprios filhos o chamavam. Tem diversos livros publicados e sua obra transita entre o estilo clássico, preponderante, marcadamente romântico, ao popular típico do Nordeste. Essa veia, inclusive, sempre esteve presente em suas ações como gestor público. Quando governador, fez imprimir na contracapa dos livros distribuídos nas escolas públicas duas quadrinhas:
No livro que você lê
Se aprender bem direitinho
Cada página é um caminho
Que se abre pra você.
Se for muito bem usado
O livro que a escola deu
De certo, será usado
Por outro colega seu.
Responsável pela construção da marca “Maior São João do Mundo”, ao inaugurar o Parque do Povo, em 1986, fez constar na placa inaugural mais uma quadra:
Que este meu gesto marque
O nascer de um tempo novo
O povo pediu o parque
Eu fiz o Parque do Povo.
Outra paixão de Ronaldo Cunha Lima era o poeta Augusto dos Anjos. Dominando a história e a obra do autor do Eu, Ronaldo participou do programa “Sem Limites”, na extinta TV Manchete. Durante semanas, encantou o apresentador e o público, respondendo todas as perguntas sobre Augusto dos Anjos, algumas vezes com versos improvisados, e venceu o programa.
Nas urnas, Ronaldo Cunha Lima jamais conheceu derrota. Amargou a cassação pelo regime militar, o revés na convenção peemedebista de 1998 e a cassação do filho pela Justiça, em 2009 – talvez sua maior tristeza. Mas, malquisto por alguns e adorado por muitos, sempre foi agraciado pelo concurso do apoio popular. Encontrou em Campina Grande seu porto seguro, seu lugar forte. Entra agora para a história como um dos maiores líderes políticos da Paraíba. Com todas as marcas que caracterizam os grandes líderes, inclusive as contradições.
Ronaldo não fugiu à tradição oligárquica que marca os grandes nomes da política paraibana e, em seu meio, soube impor sua vontade. Mas, de qualquer forma, nesse jogo da real democracia brasileira, sempre recebeu a chancela popular – e, nesse sistema, o povo é o maior juiz. Foi um homem do seu tempo. No entanto, conseguiu ser, ao mesmo tempo, um intelectual respeitado nos altos círculos e um gênio popular, transitando poética, política e humanamente entre nobres e plebeus com igual desenvoltura, com a mesma identificação.
O julgamento da istória, que inevitavelmente perscruta todos os homens públicos, de todos os tempos, precisará analisar Ronaldo Cunha Lima pelos inúmeros aspectos, tantas vezes controversos, que marcam a sua personalidade. Sem o ardor messiânico dos apaixonados nem a má vontade inexorável dos críticos, não será um trabalho simples, porque Ronaldo nem de longe foi uma figura simplória, ao contrário de tantos homens públicos.
Aliás, essa é uma das marcas de Ronaldo que não podem ser negadas: ele não foi político por acaso, ele não foi um grande líder por acidente de percurso, ele jamais foi uma personalidade irrelevante no cenário paraibano, nem no seu alvorecer político, nem no seu ocaso. Sem padrinhos poderosos, sem berço de ouro, Ronaldo tornou-se o patriarca de uma família hoje de elite na política estadual. Ele escreveu, com versos e brilho a própria história, a poesia tipicamente humana da sua própria existência.
Secom
Ronaldo formou-se em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mas desde cedo a vocação para a política passou a marcar sua trajetória. Fez parte do Centro Estudantil Campinense, um verdadeiro celeiro de líderes políticos, sendo, inclusive, vice-presidente da entidade.
Disputou sua primeira eleição em 1959, com 23 anos, elegendo-se vereador pelo PTB, com 952 votos. Três anos depois (1962), foi eleito deputado estadual, somando 3.796 sufrágios, dos quais 2.057 oriundos das urnas de Campina Grande. Em 1968, aos 32 anos, chegaria à Prefeitura de Campina Grande, uma história interrompida.
A partir de 31 de março de 1964, o Brasil passou a ser comandado pelo regime militar, cujas mudanças políticas acabaram por atingir Campina Grande, com o afastamento do então prefeito Newton Rique, que, além de perder o mandato conquistado no ano anterior, teve os direitos políticos cassados por dez anos.
Amigo de Rique, Ronaldo certamente não imaginava que, cinco anos depois, enfrentaria o mesmo destino. Mesmo sem ser o mais votado para a Prefeitura em 1968, Cunha Lima venceu, beneficiando-se da nova legislação, outorgada pelos militares, que instituiu o sistema da sublegenda. As eleições aconteceram em 15 de novembro.
Prefeito eleito, prefeito cassado
Na votação direta, Severino Cabral, da Arena I, teve mais sufrágios: 17.568. A Arena II, com Plínio Lemos, que poderia ter balançado a disputa em favor de Cabral, obteve apenas 635 votos. E a Arena III, de Stênio Lopes, teve ainda pior desempenho, com 241 sufrágios. Na soma, a Arena, onde praticamente só o “Pé de Chumbo” teve votos, totalizou 18.444 sufrágios. Com isso, o partido ficou atrás do MDB, que somou 22.156 votos: 13.429 de Ronaldo Cunha Lima, 312 de Osmar Aquino e 8.415 de Vital do Rêgo.
Candidato mais votado do partido que obteve a maior votação, Ronaldo elegeu-se. Venceu de acordo com as regras do jogo. Mas, se a norma casuística da Ditadura Militar ajudou a vencer, o arbítrio acabaria levando a uma virada de mesa.
Ronaldo e seu vice, Orlando Almeida, tomaram posse no dia 31 de janeiro de 1969. Menos de dois meses depois, em 14 de março, por efeito do famigerado Ato Institucional nº 5 (AI-5), decretado no dia anterior, assim como acontecera com Newton Rique, Ronaldo também teve o mandato cassado, com suspensão dos direitos políticos por dez anos. Seu vice assumiu, mas também acabou afastado, ficando Campina nas mãos de um interventor, Manoel Paz de Lima.
Do mesmo modo que Newton Rique, Ronaldo Cunha Lima também deixou Campina Grande. Mas, ao contrário do amigo rico, o poeta-político, casado com Maria da Glória Rodrigues da Cunha Lima, penou para sustentar a prole de quatro filhos – Ronaldo, Cássio, Glauce e Savigny Cunha Lima – fora da Rainha da Borborema, ainda mais com os direitos políticos suspensos – o que o impediu de assumir cargo público.
Inicialmente, Ronaldo transferiu-se para São Paulo e, em seguida, para o Rio de Janeiro, exercendo a advocacia. Nunca desligou-se, todavia, de Campina Grande. Segundo relato do filho, o hoje senador Cássio Cunha Lima, acompanhava os acontecimentos da cidade através das páginas do agora extinto Diário da Borborema, até que, nos estertores do regime militar, após a anistia, regressou à Paraíba e voltou a disputar a Prefeitura campinense.
1982: O retorno triunfal nos braços do povo
Convocado por amigos para voltar às disputas políticas, Ronaldo Cunha Lima deixou o Rio de Janeiro, em 1982, e retornou à Rainha da Borborema. A volta triunfal ficou eternizada nos versos de uma quadrinha: “Volto à minha Campina / No templo e no Evangelho! / E ao entrar nesta cidade / Afoguei minhas saudades / Nas águas do Açude Velho”.
Em sua nova disputa pela Prefeitura, Ronaldo não precisou se valer, como em 1968, da sublegenda, para reconquistar a Prefeitura. O sistema era o mesmo, mas o bipartidarismo havia sido rompido. Indiferente a esses aspectos, Ronaldo atropelou todos os adversários, e venceu com larga vantagem.
Candidato pelo PMDB I, Ronaldo somou 40.679 votos, o equivalente a 56,33%. Vital do Rêgo (PSD I) obteve 28.625 sufrágios, ou 39,64%. A votação dos demais candidatos foi minúscula. Passados 13 anos desde a cassação pelo regime militar, Ronaldo voltava ao cargo que lhe fora usurpado pelo arbítrio.
Tal pai, tal filho
Ronaldo cumpriu mandato de seis anos. Em 1986, elegeu o filho Cássio, então com 23 anos, deputado federal constituinte. E, beneficiando-se pelas disposições transitórias da nova Carta Magna, fez do jovem deputado seu sucessor no comando do executivo municipal campinense, vencendo na disputa o ex-prefeito Enivaldo Ribeiro.
O jingle da campanha de Cássio expressava o sentimento e a estratégia de marketing daquele momento: “Plantar o grão / Pra colher o milho / Depois do pai / Sempre vem o filho / Continuar por amor é a sina / Francisco Lira, Cássio Cunha Lima”. O sucesso em 1982, coroado com a vitória do filho em 1988 e o poderio do PMDB estadual, somados, pavimentaram o caminho para a corrida pelo Palácio da Redenção, em 1990.
Seria a primeira eleição direta para governador, a ser decidida no segundo turno. E a nova regra permitiu que Ronaldo Cunha Lima derrotasse o ex-governador Wilson Braga (PDT), que venceu o primeiro turno, com 498.763 votos, contra 462.562 do peemedebista. Também estiveram no primeiro tempo da refrega outros candidatos: João Agripino (PDS) – 137.487 sufrágios; Genival Veloso de França – 44.719; Juracy Palhano – 6.494.
No segundo turno, Cunha Lima reverteu a vantagem de Wilson Braga, vencendo com ampla vantagem: 704.375 sufrágios a 571.802 (diferença de mais de 132 mil votos). No balanço entre as duas principais cidades do Estado, enquanto em João Pessoa a diferença pró-Braga caiu para menos de 24 mil sufrágios, em Campina Grande Ronaldo ampliou sua margem para quase 85 mil votos.
Ronaldo governou a Paraíba de 15 de março de 1991 a 2 de abril de 1994, quando renunciou ao mandato, entregando o cargo ao vice-governador, Cícero Lucena, para se eleger senador.
Um poeta de alma e verso
Ex-vereador, ex-deputado, ex-prefeito, ex-governador e ex-senador, Ronaldo Cunha Lima sempre gostou de ser tratado por um título bem mais singelo: poeta. É assim que os próprios filhos o chamavam. Tem diversos livros publicados e sua obra transita entre o estilo clássico, preponderante, marcadamente romântico, ao popular típico do Nordeste. Essa veia, inclusive, sempre esteve presente em suas ações como gestor público. Quando governador, fez imprimir na contracapa dos livros distribuídos nas escolas públicas duas quadrinhas:
No livro que você lê
Se aprender bem direitinho
Cada página é um caminho
Que se abre pra você.
Se for muito bem usado
O livro que a escola deu
De certo, será usado
Por outro colega seu.
Responsável pela construção da marca “Maior São João do Mundo”, ao inaugurar o Parque do Povo, em 1986, fez constar na placa inaugural mais uma quadra:
Que este meu gesto marque
O nascer de um tempo novo
O povo pediu o parque
Eu fiz o Parque do Povo.
Outra paixão de Ronaldo Cunha Lima era o poeta Augusto dos Anjos. Dominando a história e a obra do autor do Eu, Ronaldo participou do programa “Sem Limites”, na extinta TV Manchete. Durante semanas, encantou o apresentador e o público, respondendo todas as perguntas sobre Augusto dos Anjos, algumas vezes com versos improvisados, e venceu o programa.
Nas urnas, Ronaldo Cunha Lima jamais conheceu derrota. Amargou a cassação pelo regime militar, o revés na convenção peemedebista de 1998 e a cassação do filho pela Justiça, em 2009 – talvez sua maior tristeza. Mas, malquisto por alguns e adorado por muitos, sempre foi agraciado pelo concurso do apoio popular. Encontrou em Campina Grande seu porto seguro, seu lugar forte. Entra agora para a história como um dos maiores líderes políticos da Paraíba. Com todas as marcas que caracterizam os grandes líderes, inclusive as contradições.
Ronaldo não fugiu à tradição oligárquica que marca os grandes nomes da política paraibana e, em seu meio, soube impor sua vontade. Mas, de qualquer forma, nesse jogo da real democracia brasileira, sempre recebeu a chancela popular – e, nesse sistema, o povo é o maior juiz. Foi um homem do seu tempo. No entanto, conseguiu ser, ao mesmo tempo, um intelectual respeitado nos altos círculos e um gênio popular, transitando poética, política e humanamente entre nobres e plebeus com igual desenvoltura, com a mesma identificação.
O julgamento da istória, que inevitavelmente perscruta todos os homens públicos, de todos os tempos, precisará analisar Ronaldo Cunha Lima pelos inúmeros aspectos, tantas vezes controversos, que marcam a sua personalidade. Sem o ardor messiânico dos apaixonados nem a má vontade inexorável dos críticos, não será um trabalho simples, porque Ronaldo nem de longe foi uma figura simplória, ao contrário de tantos homens públicos.
Aliás, essa é uma das marcas de Ronaldo que não podem ser negadas: ele não foi político por acaso, ele não foi um grande líder por acidente de percurso, ele jamais foi uma personalidade irrelevante no cenário paraibano, nem no seu alvorecer político, nem no seu ocaso. Sem padrinhos poderosos, sem berço de ouro, Ronaldo tornou-se o patriarca de uma família hoje de elite na política estadual. Ele escreveu, com versos e brilho a própria história, a poesia tipicamente humana da sua própria existência.
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